É Carnaval!

Toco alfaia (o nome certo para o instrumento que é popularmente chamado de tambor ou bumbo) num grupo de percussão e maracatu (Grupo Corpos/Corpos Percussivos), no Recife. Passamos o ano nos encontrando semanalmente e, quando chegam as semanas pré-Carnaval, os ensaios se aceleram (só lembrando: é Carnaval no Recife desde janeiro..)!

Hoje foi o dia da nossa apresentação oficial na rua. Só quem toca sabe a adrenalina que é tocar alfaia entre 50 outras alfaias, com mais dezenas de pessoas tocando abê e agogô, e sob a regência do mestre Jorge, que consegue manter todos completamente sintonizados com o que ele quer.

Baquetas na pele, riso no rosto, passos de dança no pé, suor correndo sem parar, e a gente vai percorrendo as ruas do Recife Antigo e levando centenas de pessoas dançando conosco. Tocar alfaia traz 2 prazeres: o do tocador e o da audiência. Como tocador, o prazer de tocar os arranjos com a jinga que o maracatu exige e num som uníssono em grupo (não se toca alfaia sozinho..) independe de termos 50, 200 ou 500 pessoas nos rodeando e dançando conosco. Mas o tocador tem como missão levantar a audiência, fazê-la sair da letargia, ajudá-la a se divertir alí na rua, na hora, a pular, a dançar, a cantar, a sorrir com uma expressão maravilhada que nos dá a certeza que estamos conseguindo, sim, atingir a nossa missão...

Já ví gente de perna quebrada tocando, gente deslocando a clavícula tocando, gente sem voz cantando.. Nada é mais importante do que o maracatu a partir do momento em que começamos a afinar a bateria. É nessa hora de completa alegria, que percebo (mais uma vez!) que o que faz aquela gente toda nos acompanhar não é só o som inebriante dos tambores ou os arranjos de maracatu misturados a jazz e a samba que são um diferencial do Grupo Corpos. O que faz essas pessoas andarem dezenas de ruas atrás de nós é (também) a vida com a qual tocamos esses arranjos!

Quando sento feliz depois de 3 horas tocando, vejo que muito do que acontece lá tem lição e relação com o ambiente de trabalho. Os arranjos são o planejamento, o posicionamento e os scripts. A preocupação que temos em ensaiar para que "todos" toquem muito bem e sem erros é mais preparação ainda e, imprescindível, elimina o individualismo e o egoísmo e nivela a qualidade do conjunto por cima. O entusiasmo no meio da rua pode (deve!) ser levado para o escritório, para o contato com o cliente, para as reuniões com chefes e subordinados dentro da empresa.

... Porque... "nas águas verdes do mar..."