Perfeição gratuita

A primeira vez que ví Naná Vasconcelos foi tocando com Pat Metheny num concerto ao ar livre, no Texas. Eles chamavam a atenção: um pelo ritmo (matemático, de tão preciso!) e o outro pelo novo tipo de jazz que produzia (muito mais do que jazz..). O vento era frio, mas o som.. incandescente!..

Depois de vários anos, reencontro Naná todo ano no Carnaval do Recife. A abertura triunfal do carnaval multicultural da cidade, com maracatu, frevo, samba, caboclinhos, rock´n roll, blocos líricos (e muito mais!) é feita sob a regência dele. E, todo ano, quando estou alí no Marco Zero da cidade, também ao ar livre, junto com milhares de pessoas em silêncio profundo e olhar atento, o coração batendo com as alfaias do maracatu e as palmas irrompendo com energia nas pausas dos instrumentos, não consigo deixar de constatar que momentos de perfeição são muitas vezes gratuitos..

Aquela energia é gratuita, aquela visão é gratuita, aquele momento é gratuito. Assim como são gratuitas as melhores conversas que temos nos intervalos dos trabalhos, nos finais dos dias, ou no meio dos corredores com pessoas/profissionais/companheiros/clientes que admiramos.

A admiração surge a partir da identificação de algum ponto de perfeição na outra pessoa e provoca, em nós, a vontade de estar disposto a ouvir, de disponibilizar tempo para o outro, de aprender com o outro.

A admiração é humilde, generosa. Nosso foco é o outro. Admirar pessoas e aprender com eles(as) é um prazer (gratuito..) que podemos usufruir a nível pessoal e profissional. Basta estar atento aos outros.