Homem foca, mulher expande

Não gosto daquela típica discussão entre homens e mulheres. Crescí rodeada de irmãos mais velhos e nunca me ví diferente deles, nem em tratamento nem em possibilidades.

Cada pessoa é uma mistura única de características "humanas", masculinas e femininas, fortes e suaves. Nisso somos iguais. Por outro lado, algumas características parecem ser mais comuns a homens e outras a mulheres. Nisso somos diferentes. Explicar "onde somos diferentes" é o propósito  do livro "Marte e Vênus no Trabalho",  de John Gray. De cética ("somos todos seres humanos.."), passei a entender alguns dos pontos apontados por ele ("ah, então este não é um problema específico meu, mas sim uma reação típica de "todas" as mulheres...")..

Segundo Gray, homens e mulheres "usam as mesmas palavras, mas os significados são diferentes". Os significados dessas palavras nascem das diferentes necessidades emocionais (ou fontes de estresse) de cada gênero:
- os homens ficam mais estressados sem confiança, aceitação, apreciação, admiração, reconhecimento e encorajamento;
- as mulheres ficam mais estressadas sem consideração (carinho), compreensão, respeito, inclusão, validação e nova confiança.

Gray afirma que cada par nas listas é recíproco e tem o mesmo grau de importância. Isso significa que a "confiança" para os homens equivaleria à "consideração (carinho)" das mulheres. O resultado disso? Um enorme potencial de choque entre os gêneros..

"Considere todos os aspectos", pensa a mulher. Por isso, toda mulher precisa conversar muito sobre os problemas, sugerir soluções antes mesmo de ser solicitada, e ainda dar um mergulho no contexto trazendo outros potenciais problemas relacionados. Têem perfil de diagnosticadoras. Nisso aborrecem os homens, que tendem a partir mais rapidamente para uma decisão e não querem sugestões não solicitadas porque se vêem aptos a decidirem sozinhos. "Confie em mim", querem os homens, não importa quantas vezes tenham acertado ou se equivocado em decisões passadas.

Pode piorar? Pode.. Quando a decisão tomada não se prova a melhor, o homem precisa de "aceitação" incondicional. Mas, nessa hora, a mulher espera a "compreensão" do homem em relação ao "porquê" dela sempre querer "considerar todos os aspectos". Mais potenciais problemas de relacionamento à vista..

Um "não" para o homem pode ser visto como um "talvez" ou "depois". Homens podem ser considerados muito mais persistentes do que as mulheres, que aceitam o que é dito como definitivo. Mais um fruto da guerra dos pares: a mulher valoriza o "respeito" na mesma medida em que o homem prioriza a "admiração" pelo atingimento dos seus objetivos (daí a persistência?)..

Segundo Gray, homens falam para dar opiniões. Mulheres também falam para opinar, mas não só para isso. Elas se comunicam para dar e receber apoio emocional,  aliviar tensões, ou descobrir algo. Homem foca, mulher expande (são multitasking..). Mulher compartilha sentimentos, homem vê o que é falado como reclamação. Quando pedido algo, homem resmunga, e mulher vê isso como uma negativa - muitas vezes não é.. Se o homem não pode resolver um problema, esquece. A mulher quer, pelo menos, conversar sobre ele, porque é assim que ela alivia suas  tensões (lembra?).. Mas já que os homens se comunicam apenas para dar opiniões, eles não entendem isso - e se irritam..

Mulher tende a se explicar demais, homem é conciso. Ele ficará mais motivado se ela se comunicar com base em resultados específicos e factuais. Mulher resmunga quando está sobrecarregada, homem não entende isso (ele resmunga quando está considerando atender a um pedido dela, lembra?). Quando a mulher pergunta "como você pôde fazer isso?", ele ouve um "tenha vergonha".. Homens não gostam de questões retóricas (enquanto tudo o que ela quer é entender os "porquês")..

Gray afirma que a maior fonte de problemas é que "os homens interrompem as mulheres com soluções, enquanto as mulheres fazem sugestões não solicitadas." De boa fé, homens e mulheres tratam o outro como sentem. Para os homens, falar sobre um problema é um convite para um conselho (as soluções..) - só que as mulheres precisam é de um ouvido amigo ou da validação das suas próprias soluções. Já as mulheres vêem como um sinal de carinho (consideração) o oferecimento de ajuda voluntária (as sugestões não solicitadas..) - só que os homens gostam de se sentirem auto-suficientes..

Não é isso mesmo? Difícil situação..

Mais ainda: o homem se isola quando tem um problema, a mulher se cerca de pessoas para falar sobre o problema. Homem age, mulher conversa. É por isso que "quando um mulher conversa sobre um problema, o homem racionaliza: "por que falar sobre isso quando poderíamos estar fazendo algo para resolver o problema?"". "Homens também não se importam se o outro esquece pequenas coisas, se ele se lembrar de grandes coisas ou produzir grandes resultados." Já as mulheres se ressentem por qualquer esquecimento.. Não estão sozinhas: ressentimento é também o que o homem sente ao ser requisitado, já que ele confunde requisições com ultimatos ou demandas..

Será isso mesmo? 

Nem todos os homens e nem todas as mulheres têm os perfis descritos. Podem ter algumas características, outras não, níveis mais acentuados de necessidades emocionais ou não.. O reconhecimento das intenções e dos significados distintos, é, no entanto, um alento para a convivência valorizada e produtiva entre associados, clientes e fornecedores, familiares e amigos de diferentes gêneros, em toda circunstância,  momento e lugar.. Concorda?