Ideias criativas nascem de novas combinações de velhas ideias


Às vezes leio 4 livros ao mesmo tempo, às vezes fico sem ler um tempo e só escrevo. Impresso ou pelo Kindle (e-book), os livros que leio ficam cheios de observações, sublinhados, páginas marcadas. Tudo que chama a atenção e toda ideia que nasce do que me chama a atenção fica anotado. Quando termino a leitura, faço imediatamente uma segunda leitura do mesmo livro, mas agora só lendo o que observei, sublinhei, marquei. Além de gravar mais, esta segunda leitura sumarizada já tem a minha reflexão e o insumo do que vou levar para a ação a partir dali. O que percebi no que li não será facilmente esquecido.

Ontem terminei de ler o "Creative Thinkering", livro de Michael Michalko. Segue o que achei mais importante (entre as aspas) e observações minhas (fora das aspas):

"Quando você pensa que sabe as respostas baseado no que aconteceu no passado, seu pensar morre. Pensamento criativo requer a viva habilidade de gerar um conjunto de associações e conexões entre 2 ou mais elementos não similares. A chave para criativamente gerar associações e conexões entre elementos não similares é a "mistura ou combinação conceitual". Pense além das convenções, force conexões entre 2 elementos diferentes. Ideias criativas nascem de novas combinações de velhas ideias. E novas ideias surgem nas conversas e no trabalho conjunto de pessoas de experiências e campos de conhecimentos diferentes, combinando pensamentos, variáveis e elementos."

Mudar a forma de olhar ajuda a criar? Sim.

"Não somos ensinados a pensar, somos ensinados a reproduzir o que já pensaram. Em vez de nos ensinarem a procurar por possibilidades, fomos ensinados a procurar formas de excluír estas possibilidades. Quanto mais educação as pessoas têm, mais caixas e gavetas de classificação elas constroem, mais especializado é seu conhecimento e mais limitada se torna a sua imaginação. A mente segrega a informação, ao invés de integrá-la."

"Gênios são gênios porque formam mais combinações do que os meramente talentosos", diz Dean Keith Simonton. E Michael Michalko complementa: "Pensadores "criativos" formam mais novas combinações porque rotineiramente combinam conceitualmente objetos, conceitos e ideias de dois contextos ou categorias diferentes." Pensadores "lógicos" consideram tais elementos em separado, não conseguem combiná-los por estarem em categorias diferentes. Mas "é a combinação de diferentes conceitos que leva a ideias originais e percepções ("insights") e que cria novos padrões de pensamento. As novas ideias serão não somente maiores do que a soma das partes mas serão "diferentes" das somas das partes."

Compreender como algo funciona é necessário para ser criativo? Sim. A concentração "nas essências e princípios ao invés de nas etiquetas e categorias" é importante? Sim.

Os insights acontecem quando convivemos em um estado consciente e até mesmo inconsciente de incessante procura por novas alternativas para essências e princípios. E, num instante, sem aviso, pode vir o... "isso"!

Michalko continua: "A criatividade vem da observação das relações entre objetos e não dos objetos em si. Pensar em termos de essências e princípios liberta a sua imaginação das restrições de palavras, etiquetas e categorias." Muitos pensadores criativos têm a prática de colecionar frases, artigos, figuras, palavras, desenhos, fotos e outros items "que possam estimular a imaginação para ideias por associação". Que características cada item tem? Que associações podem ser feitas a partir dessas características? Que combinações podem ser feitas entre o item e algum problema a resolver ou oportunidade a aproveitar?

"Trabalhe em dois ou mais problemas não relacionados em paralelo. Quando você der uma parada num problema, concentre-se no outro problema. Quando você para de pensar e decide esquecer algo por um tempo, seu subconsciente não para de trabalhar. Seus pensamentos se manterão colidindo, combinando e fazendo associações e seu subconsciente trará conexões intuitivas" originais.

Vemos as coisas como elas são ou como somos? 

"Cada ato de percepção é uma experiência subjetiva e pessoal. Nosso cérebro interpreta o mundo de forma a alinhá-lo com o que queremos enxergar - e bloqueia a visão do que não queremos ver. Este seria o porquê de especialistas de qualquer campo de conhecimento terem suas próprias teorias e crenças. Mas, para reduzirmos pré-conceitos nos pensamentos, necessário é termos diferentes olhares. Havendo uma multiplicidade de perspectivas, uma nova consciência criativa se manifesta e expandem-se as possibilidades.

Percepção é um processo ativo e você cataliza o pensamento criativo ao olhar de várias perspectivas. Com cada nova perspectiva, seu entendimento se aprofunda e as possibilidades criativas se expandem - Leonardo da Vinci chamava esse pensamento "super vedere", super visão, o que significaria "conhecendo como ver."

É a ausência da evidência uma evidência da ausência?

A habilidade de imaginar ideias ou imagens opostas ou contraditórias existindo simultaneamente permite uma inteligência além do pensamento lógico. A maioria dos paradoxos nos faz sentir inseguros porque fomos ensinados a manter opostos separados." Parece que esquecemos que "todos os opostos se originam de um centro comum" e que "não existe segurança no tentar controlar posições fixas, mas sim, curiosamente, no movimento e no fluxo contínuo.

Pensadores criativos podem se imaginar nas mentes de outras pessoas, no lugar dos outros", diz Michalko ao final do livro. E não é que este é um princípio similar ao nosso "olhar através dos olhos dos clientes" da Engenharia de Vendas?