Blink

Blink, um livro escrito por Malcolm Gladwell (jornalista do The New Yorker) e publicado em 2005, é um daqueles livros que você lê de uma vez só, sem perceber que já é de madrugada e que terá poucas horas de sono antes de mais um dia de trabalho - e ainda assim acorda inspirado, tonificado, realizado..

O livro trata da atração ou repulsão intuitiva que sentimos em relação a algo ou alguém, mesmo quando não existem fatos que comprovem o acerto - ou o erro - do que sentimos. O que causa esses sentimentos? O que nos faz, inconscientemente, duvidar de um contexto ou de uma pessoa em apenas 2 segundos?

Aparentemente, o nosso físico "sente" algo antes da nossa mente receber esta mensagem. Segundo Gladwell, "nosso cérebro usa duas estratégias muito diferentes para entender as situações. A primeira estratégia é a que nos é mais familiar, é a estratégia consciente. Nós pensamos no que temos aprendido e eventualmente chegamos a uma resposta. A estratégia consciente é lógica e definitiva, mas é devagar e precisa de muita informação. Mas há outra estratégia. Ela é mais rápida e é muito inteligente porque entende o problema quase que imediatamente. Ela opera (ao menos no início) inteiramente abaixo da superfície da consciência. Ela manda mensagens através de canais indiretos, como o suor das palmas das nossas mãos. É um sistema no qual o cérebro chega a conclusões sem imediatamente nos dizer que está chegando a conclusões." Ou seja nós temos, a nível inconsciente, um sistema decisório que é capaz de rapidamente julgar situações com um mínimo de informação. É esse sofisticado inconsciente que nos alerta para o que nos parece errado e perigoso, mesmo quando, conscientemente, não sabemos explicar porque estamos negando, hesitando ou recuando - ou o contrário.

Pausa para pensar... Mas e o tempo e esforço que dedicamos para o estudo das situações antes de tomar nossas decisões? São desnecessários? Não, não são. Mas Blink é extremamente interessante justamente porque abre a nossa visão, levando-nos a perceber que, em determinadas situações, "decisões tomadas muito rapidamente podem ser tão boas quando decisões tomadas com muito estudo e cuidado".

Por que isso acontece? Porque estudos cuidadosos podem ter "bias" (inclinações), e bases de dados, mesmo completas, podem ser interpretadas de mais de uma forma dependendo dos interesses, experiências e sentimentos dos interpretadores. Quando e o quanto confiar nesses sentimentos é o X da questão.. Mesmo porque não se pode virar as costas para a lógica, incorrendo no erro de invalidar todo aprendizado dirigido e científico que acumulamos durante anos... Por outro lado... há sempre o outro lado.. "pode existir tanto valor num "blink" (piscar) de olhos como em meses de análise racional", repete Gladwell.

Díficil de acreditar? Mas como explicar aquela certeza que surge sobre continuar ou congelar um negócio ou um projeto? O que é isso que insiste em nos apontar uma direção? O que nos leva a reconhecer padrões (grande qualidade num vendedor) mesmo em situações onde há poucos dados ou experiência (conceito do "thin-slicing")?

Mais ainda: podemos aprender a estar consciente desse inteligente inconsciente? Segundo Gladwell, sim. Basta mensurar uma variável determinante na situação que possa tornar dispensável o exame dos demais detalhes. Que variável ou variáveis? Pense na representação e nos vários níveis de atenção, sociabilidade, cooperação e confiança, organização, segurança e independência - ou desdém, reserva, egoísmo e desconfiança, desorganização, insegurança e resistência a novas experiências - das pessoas e do ambiente ou situação à sua volta. "Escute o seu sentimento, controle suas impressões, improvise".

Por outro lado... quanto mais isenção, conhecimento e experiência você tiver... "Decisões verdadeiramente bem-sucedidas se ancoram no balanço entre o pensamento deliberado e o pensamento instintivo. Se usarmos um dos dois pensamentos numa circunstância inapropriada, aí, sim, estaremos errando na decisão e na execução", Gladwell adverte. Boa observação..