Eu também, irmã...

Hoje eu sonhei com minha irmã.

Uma diferença de 11 anos nos separava, mas não era esta a causa de sermos tão diferentes. Mais do que o tempo de cada uma, as prioridades, os pensamentos, as aparências, os estilos e as visões de vida eram quase sempre distintos... Enquanto ela gostava de ficar em casa, ler no quarto e ouvir música francesa, eu praticava esportes, saía com grande grupo de amigos e adorava minhas temporadas americanas. Eu via a vida passar, tinha pressa e urgência no tanto a fazer; ela não. Eu queria a liberdade dos meus irmãos mais velhos; ela não sentia falta dela. Eu queria independência; ela estava bem como estava. A vida adulta nos afastou fisicamente, eu nos Estados Unidos, ela no Recife. Foi de lá que eu soube que ela estava doente. Diziam-me que o que ela tinha era sério, mas não diziam que doença era. Tratada por meses, restabeleceu-se. Grande alegria para todos! Anos depois, metástase... Sim, o câncer que voltou em alguns meses a levou.

No meu sonho de hoje, estávamos numa festa, eu a via e dávamos um longo e fraterno abraço. Eu era quem sou, ela era quem foi. Ajeitei-lhe o cabelo, olhei-a como nunca antes a tinha olhado e contei-lhe o que vou contar a você agora. Peço que você receba o relato a seguir com a mesma simplicidade e pureza que me levam a compartilhá-lo com você. Quem me conhece sabe o quanto sou reservada em relação à minha vida pessoal, mas este é um relato que pode, sim, salvar vidas. 

Sou fisicamente ativa e disciplinada. Sempre fiz exercícios, tive alimentação saudável e fiz os exames de rotina prescritos pelo meu médico. No ano passado, ele se aposentou. Com a pandemia, os exames do início do ano foram adiados. Há algumas semanas, minha nova médica, Dra. Márcia Pedrosa, solicitou 23 exames, 11 a mais do que antes. E foram 2 dos novos exames (ultrassom de abdomen e sangue nas fezes) que indicaram a necessidade de mais exames, mesmo eu estando completamente assintomática, com a mesma aparente ótima saúde de sempre. Colonoscopia, biopsia, ressonância magnética e pet scan feitos, o resultado foi claro e muito sério: estou com câncer, 1 tumor maligno no intestino e 2 no fígado. Metástase. Surpresa completa...

"Eu também, irmã..." Nesta hora do meu sonho, estávamos ali unidas como nunca, ambas compartilhando a mesma doença, as mesmas dúvidas e a mesma fé...  

Com anos de yoga na vida real, anos de fé, oração e gratidão a Deus e Nossa Senhora, anos de uma espiritualidade que é sentida muito além de entendida, sinto o conforto do aprendizado deste momento. Entrei num mundo que não conhecia. Medo da doença não tenho, aceito a realidade como ela é. Por alguns breves minutos tive medo do tratamento (catéter? quimioterapia? cirurgias?), mas como alguém poderia ter medo de um tratamento que me dá uma possibilidade de cura? Medo não ajuda.

Hoje estou com um catéter implantado e já passei pela primeira sessão de quimioterapia. Vou mais a laboratórios e hospitais, e vejo a atenção, ternura e fé dos profissionais da área de saúde. No mais, tudo continua como antes. A vida e o trabalho seguem ativos, com o mesmo prazer. Os cursos que ministro e as mentorias e consultorias que dou a startups e empresas brasileiras de software continuam com a mesma certeza de que bem comum e múltiplo é gerado pelo compartilhamento da excelência. Câncer não é contagioso, exemplo é! Darei conta.

Quanto a você, cuide-se. Não adie. Consulte bons médicos, faça seus exames físicos de todo tipo, garanta a sua boa saúde. Agora!


"O Anjo da Nobreza está sempre ao redor de nós estimulando que nossos mais dignos pensamentos e atitudes sejam expressados, independente da situação." (Vânia Monteiro)